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Geral Outubro e a infância

Outubro e a infância: os quatro pilares que moldam a saúde da criança

A proposta de olhar a infância por meio desses quatro pilares

09/10/2025 10h38
Por: Carlos Valadares

Em um mês emblemático como o Outubro das Crianças, a pediatra e hebiatra Dra. Cintia Filomena reforça que promover saúde infantil vai além de consultas de rotina — passa por escolhas estruturadas e preventivas. Para ela, quatro pilares — nutrição, sono, atividade física e segurança física e emocional — são alicerces indispensáveis para um desenvolvimento pleno.

Dados nacionais recentes revelam que 14,2 % das crianças até cinco anos já apresentam excesso de peso ou obesidade, praticamente três vezes o percentual estimado global (5,6 %)  . Entre adolescentes, esse cenário se agrava: cerca de 33 % estão acima do peso, frente a uma média mundial de 18,2 %.  Essas estatísticas indicam que é urgente fortalecer ações preventivas desde cedo.

Nutrição: o combustível que molda corpo e mente

“Um prato colorido vale mais que medicação”, afirma Dra. Cintia Filomena. Para ela, estimular o consumo de frutas, verduras e proteínas variadas desde a infância não serve apenas para saciar: é nutrir ossos, músculos, inteligência e bem-estar emocional.

“Comer bem e saber fazer escolhas saudáveis é uma forma fácil e econômica de promover saúde”, diz. A médica defende ainda que “saber reconhecer alimentos e seus nutrientes deveria ser matéria obrigatória na educação doméstica e escolar”. A formação de hábitos alimentares saudáveis na infância tende a perdurar ao longo da vida, com retorno potencial em melhor qualidade de vida.

Sono: o “superpoder” que molda corpo e mente

Dra. Cintia alerta: “Enquanto a criança dorme, o corpo trabalha: libera hormônio do crescimento, fortalece a imunidade e organiza o que ela aprendeu no dia.”

Para dar sustentação a essa afirmação com base científica, há um estudo da USP que investigou os efeitos da restrição de sono sobre marcadores inflamatórios em crianças de 5 a 7 anos.  O trabalho, com coleta de dados entre setembro de 2019 e março de 2020, avaliou 199 crianças de escolas públicas e privadas em São Paulo e Fortaleza, medindo o tempo de sono por dispositivo de actigrafia contínua e correlacionando com níveis de proteína C‑reativa (PCR) e outras variáveis inflamatórias  . Os resultados indicaram que crianças com sono insuficiente tendiam a apresentar elevação de marcadores inflamatórios, o que pode sinalizar riscos futuros para condições cardiometabólicas.

No entanto, ao avaliar qualidade de sono e duração, é preciso observar não apenas horas completas dormidas, mas também fragmentações e despertares no período. Para promover um sono adequado, Dra. Cintia recomenda rotina organizada, proibição de telas ao menos 1 hora antes de dormir, ambientes tranquilos, horários estáveis e um ritual calmo antes do repouso.

A médica lembra que as faixas de sono ideais variam por idade: por exemplo, entre 6 a 12 anos são recomendadas de 9 a 12 horas por noite; em adolescentes, de 8 a 10 horas. Ela reforça: “O melhor termômetro é observar como a criança age durante o dia: se está ativa, bem-humorada e com apetite, é sinal de sono adequado.”

Atividade física: brincar é nutrir movimento

“A criança saudável é criança ativa”, afirma Dra. Cintia. Para ela, deixar espaço para correr, pular, andar de bicicleta ou simplesmente brincar é um investimento no sistema cardiovascular, nos ossos, nos músculos, na coordenação motora e no bem-estar emocional.

Estudos mostram que o excesso de tempo em telas — televisão, tablets, videogames, celulares — está associado a menor tempo de atividade física, pior qualidade de sono e risco aumentado de sobrepeso infantil. Trocar uma hora de tela por uma hora de brincadeira ativa, em ambientes seguros e supervisionados, pode trazer ganhos importantes. “Movimento é vida, movimento é saúde — e isso começa na infância”, diz.

Segurança física e emocional: as asas invisíveis do crescimento

Para Dra. Cintia, garantir segurança é tão fundamental quanto garantir alimentação e descanso. “Criança segura e acolhida cresce mais confiante”, afirma. Essa proteção inclui vigilância em brincadeiras, manutenção de ambientes seguros, uso de cinto e protocolos de segurança, mas também atenção ao universo emocional da criança.

O acolhimento emocional — ouvir, dialogar, validar sentimentos — é parte essencial do cuidado. “Amor forma caráter e cuidados salvam vidas”, reforça. Ao permitir que a criança se expresse sem julgamento e sentir respaldo, contribuímos para seu desenvolvimento de autonomia e autoestima.

Da prevenção ao protagonismo em saúde

A proposta de olhar a infância por meio desses quatro pilares — nutrição, sono, movimento e acolhimento — não é apenas uma orientação técnica, mas um chamado à responsabilidade compartilhada. “Saúde não é tratar doenças, mas escolher não as ter”, afirma Dra. Cintia Filomena.

“Cada refeição bem pensada, cada hora de sono valorizada, cada brincadeira incentivada e cada diálogo acolhedor fazem parte do caminho de construir uma vida com mais autonomia e resiliência. Neste outubro das crianças, cabe a pais, cuidadores e sociedade fortalecerem ambientes onde as crianças possam escolher ser saudáveis, com consciência e liberdade”, concluiu a médica. 

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